As mais recentes mudanças no projeto de lei Antifacção, relatado pelo deputado federal Guilherme Derrite (PP-SP), trazem pontos positivos no combate ao crime organizado, dizem especialistas ouvidos pela Folha, mas abrem por outro lado caminho para que facções ampliem o domínio sobre o já superlotado sistema carcerário brasileiro.
O texto cria o chamado Marco Legal do Combate ao Crime Organizado Ultraviolento no Brasil e promove alterações em parte do arcabouço penal vigente no país. Também institui novos tipos de crimes, endurece o cumprimento de penas e a progressão de regime entre os presos.
Especialistas ouvidos pela Folha afirmam que parte do projeto é bem-vindo e a outra, por sua vez, deve ser melhor debatida dentro do Congresso.
Doutor em direito penal pela USP, o advogado Leandro Sarcedo diz que um dos problemas está no que chama de aumento exacerbado e irrestrito de penas.
“O Brasil já tem a terceira maior população carcerária do muna do. Este projeto, da forma como está, seguramente vai aumentá-la”, diz Sarcedo.
A proposta de endurecimento, segundo ele, trilha caminho semelhante ao que o Brasil vem adotando desde os anos 1990 -e sem sucesso, afirma.
Propostas de maior rigor no cumprimento das penas podem ser bem-vindas, diz o advogado Juliano Callegari, especialista em direito penal pela Universidade de Coimbra (Portugal), desde que discutidas caso a caso. “Tem o jeito eficaz de se combater o crime e o popular, que dá votos”, afirma.
Para ele, a proposta do deputado vai nesse sentido. Callegari afirma que o texto atual atingiria quase que inteiramente o baixo clero do crime organizado em vez de seus financiadores, o que poderia se voltar contra o próprio poder estatal, diz.
“O que temos visto na prática é que o sistema prisional virou escola do crime. Quando essas pessoas saírem do ambiente peni-tenciário, quase 20 anos depois, já estão cooptadas pelas organi-zações”, afirma.
Para o advogado Daniel Bials-ki, porém, eventual aumento da população carcerária não deveria ser visto como problema.
“É uma inversão de valores. Só vai cumprir pena alta quem de fato cometer crime. Numa sociedade civilizada pressupõe-se que as pessoas trabalhem de forma líci-ta. Você não pode ter profissionais do crime”, afirma.
Segundo ele, a prisão por período prolongado deve servir de exemplo para evitar que outras pessoas cometam crimes do gê-nero. “Se tivermos de construir mais presídios de segurança má-xima, que o façamos.”
Participação de Juliano Callegari Melchiori no Podcast Caso a Caso
Participação do sócio Juliano Callegari Melchiori no Podcast “Caso a Caso”, de Paulo Mathias e Carla Albuquerque.


